Dose de açúcar

Ao que tudo indica, o mel foi a primeira fonte de açúcar utilizada pelo homem. Em seguida, a cana-de-açúcar, dita como originária da Papua-Nova Guiné que apareceu há 10 ou 12 mil anos atrás, onde sua cultura se estendeu. Foi o rei da Macedônia, Alexandre Magno (356-323 a.C.) que a descobriu, durante suas viagens ao Oriente no século IV a.C., que acabou sendo levada a Pérsia a sete chaves, onde acabou sendo refinada por volta de 600 d.C.

O açúcar era uma especiaria cara e rara, que era vendido em boticários. Era usado para a fabricação de pastilhas, além de frutas em conserva. O pouco uso na culinária era justificado pelo seu custo que equivalia a aproximadamente US$ 100, fazendo com que somente famílias abastadas o consumisse. Mesmo assim, o mel foi perdendo espaço para o açúcar, que era mais fácil de transportar e conservar. O aumento do açúcar consagrou o gosto das elites sociais pela arte do açúcar, a confeitaria, durante o Renascimento.

Foi nas cortes italianas que os banquetes de açúcar viraram moda. A nobre Catarina de Médici (1519-1589), chegou à França para se casar com Henrique II (1519-1559), e tal ato fez com que provocasse uma revolução na gastronomia francesa. Ao se mudar para Paris, arrastou consigo todos os seus funcionários, como amas, cozinheiros e confeiteiros. E seus inúmeros livros de receitas, é claro. Foram criados os biscoitos de amêndoas (que podemos chamar de macarons), pudins de ovos, compotas, geleias, doces de frutas, pâte à choux, zabaglione e sorvete. Seu bolo de casamento foi o primeiro a ser em andares. A partir de então, quando essa moda virou hábito, deu-se início a uma competição para saber qual corte produziria o mais deslumbrante e alto.


Foi na capitania de São Vicente que a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil, e o responsável foi o rei D. Manuel (1469-1521), que ordenou sua introdução, que acabou sendo trazida pelo governador-geral Martim Afonso de Souza (1500-1571) em 1532. O plantio de cana foi a primeira atividade agrícola do país. Porém, foi na região nordeste que a cana se alastrou com sucesso, devido ao solo fértil e clima favorável. E naquele tempo, as plantações de cana só se expandiram. Sendo assim, a procura de açúcar no mundo só aumentou, deixando-o mais acessível, fazendo com que a confeitaria tomasse outro rumo. Os doces portugueses ganharam fama e se tornaram populares ao chegarem aqui, mas algumas adaptações tiveram de ser feitas devido a escassez de alguns ingredientes. Foi o caso do leite, da manteiga e da farinha de trigo, na época chamada de farinha do reino. Esses ingredientes foram substituídos pelo leite de coco, trazido de Moçambique por escravos, pela farinha de mandioca, principal ingrediente para os bolos da época e pela banha de porco.

Com a insuficiência de metais preciosos e nobres (ouro e prata), o açúcar foi a riqueza que o Brasil poderia oferecer, e assim que o plantio da cana começou a se desenvolver, o açúcar passou a ser abundante, tendo matéria-prima o suficiente para a produção de doces, atividade essa restrita às mulheres, como em Portugal.

A soma da abundância de cana com as técnicas e segredos das sinhás, a mão de obra escrava e frutas tropicais nativas deu-se um delicioso resultado para a doçaria brasileira. Nenhum doce nasceu das mãos generosas das nossas índias. Açúcar e sal eram valores da mulher branca. Assegura o historiador Câmara Cascudo (1898-1986).

Por aqui os doces serão convidados de honra. Então se prepare para as pequenas preciosidades variadas que por aqui estarão. 

Depois dessa curiosa e importante aula de história, digo que é essa a dose de açúcar de que estava falando!

Referência bibliográfica:
COSTA, Marcos. A história do Brasil para quem tem pressa. Rio de Janeiro: Valentina, 2016.
SALDANHA, Roberta Malta. Histórias, lendas e curiosidades da confeitaria e suas receitas. Rio de Janeiro: Senac, 2015.